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Deu pano pra manga

Era um dia como outro qualquer na confecção de roupas Fruto da Moda,até que...
Triiimmm.
— Alô!
— Alô!
— De onde fala?
— Fruto da Moda, bom dia!
— Bom dia eu gostaria de fazer uma encomenda.
— Pode falar, o que o senhor deseja?
— Eu desejo trinta mangas?!
— Quantas mangas:!
— Trinta.
— Mas... só as mangas?
— É. Algum problema?
— Não... o senhor é quem sabe!
— Realmente sou eu que sei. Posso continuar o pedido?
— Claro! Seja qual for...
— Por favor, envie muitas verdes e poucas vermelhas.
— Sei... Nós temos apenas verde limão. Serve?
— Ah... Boa idéia! Aproveite e mande-me alguns limões e algumas laranjas.
— Cor-de-laranja?
— É lógico!
— O cliente sempre tem toda a razão...
— Por favor, você poderia mandá-las numa caixa para não amassar muito?
— Sem problema algum1 o senhor gostaria que já mandássemos passadas?
— Que absurdo! Quem gosta de mangas passadas?
— O senhor me desculpe, mas eu gosto!
— Gosta? Que horror! Se bem que gosto não se discute, não é mesmo?
— É. Como o senhor quer os botões?
— O quê?? Botões?? A senhora ficou biruta?! Nunca vi isso na minha vida!
— Pois fique sabendo que o senhor está muito desinformado! Provavelmente deve usar só camiseta, certo?
— Nada disso, e o que tem a ver a manga com a camiseta?... Ô-ooooou, algo está errado...Tudo está muito estranho... Diga-me uma coisa...
— Pois não?
— A sua manga tem casca, caroço, fiapo e muito caldo?!...
— O quê? ? Está de brincadeira comigo ou é o senhor que está ficando biruta?
— Chiii ... Algo me diz que dei um fora!...
— É. Qual?
— Eu acho que aí não é o mercadinho Fruto da Época, é?
— Não, aqui não é o mercadinho Fruto da Época, não senhor! Aqui é a confecção de roupas Fruto da Moda, como eu já disse!!!
— Ai, minha senhora, perdoe-me a confusão! Não quero manga de camisa, não!... Quero a manga fruta! Que engano! Desculpe-me sim?!
— Claro, isso acontece. Até logo! Plec

Ana Paula Escobar Freddi e Noemi Paulichenco Loureiro. Deu pano pra manga,São Paulo, Spicione, 1997.

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